Perder peso é um processo custoso, assim como a manutenção do corpo após este peso perdido.
Essa afirmação é vivenciada por aqueles que estão em processo de emagrecimento e, igualmente, é apontada pelas pesquisas que estudam a área. Evidências apontam que, dos indivíduos que perderam 10% do peso ou mais, em um intervalo mínimo de 1 (um) ano, apenas 20% têm sucesso no processo de manutenção do peso perdido.
E por que esta definição de 10% de peso perdido? Pois com essa porcentagem de perda há benefícios comprovados na saúde, especialmente nos fatores de risco do diabetes e de doenças cardíacas, mesmo que o paciente não chegue ao peso ideal.
Wing and Hill fizeram, em 1994, nos Estados Unidos, o National Weight Control Registry (NWCR), um grande registro de dados que, até 2005, tinha contado com a participação de 4.000 pessoas (número que, atualmente, excede 10.000), recrutadas via jornal ou revista, maiores de 18 anos, que perderam no mínimo 13,6kg e mantiveram a perda por pelo menos 1 (um) ano. Quando admitidos no registro, eles completavam diversos questionários, detalhando sobre o processo de emagrecimento enfrentado e, também, o de manutenção, sendo, posteriormente, acompanhados para análise tanto de peso, como de comportamento.
Os participantes foram, em sua maioria, mulheres (77%), alfabetizadas (82%), caucasianas (95%) e casadas (64%). A média de idade ao ingressar era de 46,8 anos. Metade reportava ter sido uma criança acima do peso, e ¾ tinham relato de ter um ou os ambos os pais com obesidade.
Neste registro, a média de peso perdido reportada foi de 33kg, enquanto a perda de peso mantida foi no mínimo 13,6kg – em um período médio de 5,7 anos. Dos que mantiveram a perda de peso, apenas 13% conseguiram manter este mínimo de 13,6kg por mais de 10 anos.
Quando avaliados os hábitos dos participantes, quatro características foram comuns: (i) o consumo de dieta baixa em calorias e baixa em gorduras; (ii) alto índice de atividade física (em torno de 1h diária, com intensidade moderada); (iii) o ato de se pesar regularmente (ao menos semanalmente) e, ainda, (iv) o hábito de fazer o próprio café da manhã.
Outra característica preditora de sucesso foi o baixo nível de ‘desinibição na dieta’ (em tradução livre), que pode ser conceituado como a “autopermissão” de ingerir alimentos fora do planejado, como, por exemplo, ir a uma festa e abusar nas quantidades ou exagerar nos finais de semana. Aqui, sem dúvidas, fica evidente a importância de habilidades para controle emocional e controle de excessos alimentares.
Em contrapartida, quando avaliados aqueles que readquiriram o peso perdido, constatou-se que um fator fundamental para isso foi, justamente, o tempo que essas pessoas conseguiram se manter mais magras. Melhor explicando, os estudos apontaram que que os indivíduos que mantiveram o peso perdido por 2 (dois) anos ou mais, reduziram o risco de reganho subsequente em 50%. Ou seja, quanto maior o tempo de manutenção do peso perdido, menor a chance do reganho equivaler à quantia perdida.
Também, importante dizer que, no grupo dos que readquiriram o peso perdido, verificaram-se quedas significativas de quantidade de atividade física, aumento de calorias da dieta principalmente às custas de gordura e menor restrição na dieta.
Quanto ao padrão alimentar, aqueles que o mantêm mesmo em feriados e finais de semana, têm menor risco de reganho, porque se expõem menos a situações de risco, principalmente aquelas em que o paciente perde o controle sobre a quantidade ingerida.
Apesar de sabermos da complexidade que é a obesidade e serem necessários mais estudos na área sobre como manter o peso perdido, hábitos como os citados acima podem ser inseridos no nosso cotidiano, de forma geral, sem danos à saúde, facilitando esse processo tão custoso.
Fonte:
Wing RR, Phelan S. Long-term weight loss maintenance. Am J Clin Nutr 2005;82 (suppl):222S-5S.