A obesidade é um problema de saúde pública global, associado a uma série de complicações metabólicas e cardiovasculares. Nos últimos anos, medicamentos injetáveis que atuam no sistema incretínico, como os agonistas do receptor GLP-1, transformaram o manejo clínico da doença. Agora, um novo estudo, o SURMOUNT-5, trouxe evidências importantes ao comparar diretamente a tirzepatida e a semaglutida em adultos com obesidade, mas sem diabetes tipo 2.
O que foi o estudo SURMOUNT-5?
Trata-se de um ensaio clínico controlado, aberto, de fase 3b, com 751 participantes. Os adultos elegíveis tinham 18 anos ou mais, IMC ≥30 ou IMC ≥27 com pelo menos uma complicação relacionada à obesidade (como hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular) e relato de tentativa fracassada de perda de peso com dieta.
Os participantes foram aleatoriamente designados para receber a dose máxima tolerada de tirzepatida (10 mg ou 15 mg) ou de semaglutida (1,7 mg ou 2,4 mg) por 72 semanas.
Critérios de exclusão incluíram: diagnóstico de diabetes, cirurgia bariátrica prévia ou planejada, uso recente de medicamentos para emagrecimento (GLP-1 ou não), ou variação de peso superior a 5 kg nos 90 dias anteriores.
Resultados principais
O desfecho primário foi a variação percentual no peso corporal do início até a semana 72. A tirzepatida demonstrou uma redução de -20,2% em comparação com -13,7% com semaglutida.
Desfechos secundários incluíram:
- Circunferência da cintura: redução de -18,4 cm com tirzepatida vs. -13,0 cm com semaglutida.
- Reduções de peso de pelo menos 10%, 15%, 20% e 25% foram mais prováveis com tirzepatida:
- 1,3x mais probabilidade para ≥10%
- 1,6x para ≥15%
- 1,8x para ≥20%
- 2,0x para ≥25%
- 19,7% dos pacientes com tirzepatida perderam ≥30% do peso corporal, comparado a 6,9% com semaglutida — uma diferença que representou 2,8x mais chance de atingir esse marco com tirzepatida.
Benefícios metabólicos
A tirzepatida também se destacou na melhora de marcadores metabólicos:
- Pressão arterial sistólica: redução de -10,2 mmHg vs. -7,7 mmHg com semaglutida
- Melhoras em hemoglobina glicada, glicemia de jejum e perfil lipídico foram observadas com ambas as medicações.
Esses resultados se somam às evidências anteriores, que já relatavam reduções de peso sustentadas de 22,9% com tirzepatida após 3,5 anos, e de 16,7% com semaglutida após 2 anos.
Perfil de segurança
Os eventos adversos mais comuns foram gastrointestinais: náusea, constipação, diarreia e vômito. A maioria foi leve a moderada, sem diferenças significativas na taxa de descontinuação entre os grupos.
Como explicar a diferença de eficácia?
A tirzepatida é um agonista duplo dos receptores GIP e GLP-1, enquanto a semaglutida atua apenas no GLP-1. Estudos sugerem que, embora os adipócitos não expressem receptores GLP-1 funcionais, eles possuem receptores GIP, o que pode explicar a regulação direta da tirzepatida sobre o tecido adiposo.
Conclusão
O estudo SURMOUNT-5 representa um marco no tratamento da obesidade, ao demonstrar a superioridade da tirzepatida em relação à semaglutida em diversos desfechos clínicos. Ainda assim, a decisão terapêutica deve ser individualizada, considerando tolerância, preferências, acesso e custo.
A ciência segue avançando, e com ela surgem novas oportunidades para um manejo mais efetivo da obesidade, baseado em evidências e centrado na pessoa.
Fonte: DOI: 10.1056/NEJMoa2416394
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